6 de set. de 2010

Décimo Sexto dia - Jodhpur

NÃO DEIXE PARA AMANHÃ O QUE VOCÊ PODE FAZER HOJE
17 de agosto, terça-feira- quase todo dia eu fazia a média de gastos com comida, hospedagens e atrativos. Até o momento, excluindo as passagens de trem e avião, a média era de US$33.00 por dia, o que me deixava feliz pois não havia passado por nenhuma necessidade, exceto por algumas vezes não conseguir encontrar nenhum lugar descente para comer.

 Estava hospedado no hotel Pushp, simples, mas limpo e por 200 rúpias por noite. No dia em que cheguei no hotel, já avisei que queria um quarto não mais que 200 rúpias ou US$4.50 por noite e o rapaz que me levou disse para o dono que mostrasse o quarto de 200 rúpias, não o que acabei ficando, que ele acabou fazendo por aquele preço.

A vista no último andar lembrava muito as favelas no Rio de Janeiro, com crianças empinando pipa do topo de suas casas. No dia anterior já havia resolvido o bilhete de trem para Jaisalmer, mas estava em lista de espera. Como já haviam dito antes, até o número 15 da lista de espera, não há com que se preocupar porque eles dão um jeito. Eu era o número 5, então estava tranquilo.

 Na Índia, se você não se planejar e comprar bilhetes de trens com certa antecedencia, corre o risco de ficar no mesmo lugar por vários dias. Se for época de festival, prepare-se para ver o inferno, pois a multidão irá toda em trem. Felizmente hoje se pode comprar pela internet os bilhetes de trem, mas aos que viajaram antes desta facilidade, devem ter perdido muito tempo nas estações para conseguir comprar seus bilhetes.

Eram 7:30 da manhã e queria tomar um banho, mas nada de àgua. Descobri mais tarde que eles fecham o registro de àgua à noite e reabrem somente no outro dia. Não sei porque, mas acho que é por serem avarentos.

 Neste dia já estava equipado com meias. Parece ridículo, mas eu não conseguia comprar meias para os pés pelos lugares que havia passado. Finalmente em Jodhpur acabei encontrando. Estava viajando apenas com uma sandáliua Crocs, e com o excesso de suor, machucava os pés. Já tinha feridas por várias partes dos pés (talvez naquele momento já seriam patas), e a meia fez grande diferença. A dor havia passado e as passadas já eram mais rápidas.

 Outro problema destas sandálias é que elas não foram feitas para andar de bicicleta, ou para subir montanhas, então grande parte do solado havia ficado em Anuradhapura quando usei uma bicicleta por todo o dia e Sighiria quando subi os degraus de uma montanha.  Em Jodhpur, a sola da sandália já estava lisa.

Vista do Forte de Jodhpur desde o Hotel PushP

 Naquela manhã fui visitar o Forte em Jodhpur. Definitivamente o Forte mais bonito do Rajastão. Ao pagar pelo ingresso, optei pelo pacote que incluia o áudio-guia, que era recomendado pelo guia de viagens.  Junto com o áudio-guia de Waterloo na Bélgica, foram os dois melhores que escutei até hoje. Ele dá uma excelente panorama da história da família do Marajá proprietário do palácio e também do Palácio.
 Primeiro, já na entrada, explicam o porque ao entrar no Forte é necessário subir e não descer em direção ao portal, como mecanismo de segurança contra as invasões. Ao ter que subir por uma subida íngreme, elefantes perderiam o impulso para tentar derrubar o portão num eventual ataque.

 Também na entrada está a marca das mãos das esposas dos Marajás quando saíram do palácio pela última vez. Um fato lamentável da cultura indiana, ainda hoje as mulheres ao perder o marido, perdem o respeito na sociedade e preferem atirar fogo em seus corpos à viver numa sociedade que irá rejeitá-las.

Mais adiante é mostrado o trono em mármore aonde foi coroado o atual Marajá. Nascido em 1947, 4 anos depois teve que ser obrigado a assumir ao trono devido a morte precoce do seu pai em um acidente aéreo.

 No dia da coroação, após receber os presentes dos nobres ou primeira casta, vieram as pessoas mais simples ou segunda casta para presenteá-lo. Num ato espontâneo, o presente que ganhou da primeira pessoa, ele repassou a segunda, e o presente que ganhou da segunda pessoa, ele deu a terceira, e assim foi repassando os presentes a todos de classes mais humilde.


Trono em mármore em que ocorreu a coroação do atual Marajá de Jodhpur

Também há a sala de armas, carruagens, inúmeras vistas fabulosas da cidade de Jodhpur, local para ensinar a usar o turbante, astrólogo, vários pátios belíssimos e salas com piso em mármore branco e vidros de várias cores decorando a janela e transformando o ambiente num conto de fadas.


Carruagem que carregava o Marajá com quatro pessoas caminhando com as mesmas passadas para que a pessoa transportada não sentisse muito desconforto

Sala de Armas


Aposento do Marajá

Sala de Audiências

Vista de Jodhpur do Forte

Diz a lenda que os Deuses atiraram tinta azul do céu na cidade de Jodhpur

 Após a Constituição da década de 70, os Marajás tornaram-se pessoas comuns, sem poder político. Isso explica o por que de seus palácios serem abertos para visitação e suas moradias serem transformadas em hotéis de luxo. O Marajá de Jodhpur decidiu até hoje voltar aos trabalhos aos pobres, criando sua própria fundação, além de trabalhar em ONG's e manutenção e conservação de seu palácio.


 Pessoas vindas do interior do Rajastão para conhecer o palácio

Funcionário usando turbante

 Até a década de 90 seu palácio estava abandonado, sendo moradia de pássaros e morcegos. Hoje é declarado Patrimonio da Humanidade, após uma grande reforma no final da década de noventa.

 Após a visita com o áudio-guia, fui a um Palácio de Marmore há 1 quilometro do Forte, e que no áudio -guia chamavam de Mini Taj Mahal devido a quantidade de mármore branco utilizado na construção. Lindíssimo, porém 15 minutos são mais que suficientes para desfrutar o local.





À tarde veio uma chuva que durou 3 horas. Lá pude assistir várias pessoas de diferentes casas aproveitando a àgua que vinha do céu para banhar-se. É algo muito comum na Índia, quase como um ritual.




Durante a chuva, conversava com o rapaz que trabalhava no restaurante do hotel. Contei minhas histórias de Varanasi e Orcha, e o pobre inocente chorava de tanto rir. Ele em contrapartida me contou que não sabia nem ler nem escrever. Antes morava com a família no deserto e que fazia tours com camelos mas que queria tentar algo na cidade. Ele, além de inglês, arranhava um pouco de espanhol, francês e italiano. Seu sonho era casar com um européia e que o levasse para a Europa. Também contou que nunca teve uma namorada (ele já tinha 22 anos) e que uma vez passou em frente a um prostíbulo mas não teve coragem de entrar. Segundo ele as mulheres eram muito bonitas e se maquiavam, e pelo serviço cobravam US$2.50.

 Já era noite e me arranquei para estação de trem. Jodhpur foi uma cidade que passou uma excelente impressão e gostaria de voltar um dia.

 Na estação de trem, encontro um casal de espanhóis que conheci na estação de trem de Agra e eles estavam indo também a Jaisalmer.

 Próxima e última parada: Jaisalmer, uma cidade incrível, no meio do deserto.





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