12 de set. de 2010

Décimo Sétimo Dia - Jaisalmer

NEM SEMPRE CONSEGUIREI COLOCAR EM DIA O BLOG, PORÉM FAREI O MELHOR POSSÍVEL PARA ATUALIZAR SEMANALMENTE

18 de agosto, quarta-feira- Cheguei as 5 da manhã em Jaisalmer, última parada da viagem. Eram 4 e meia de manhã, e teria apenas que encontrar o pessoal do hotel que me esperaria em frente a estação. Felizmente não houve nenhum imprevisto, e na multidão de agentes tentando vender hotéis, logo encontrei o pessoal.

 Porém na noite anterior, um pouco antes do trem partir de Jodhpur, já alguns indianos tentaram persuadir para oferecer quartos nos hotéis. Um, tentou me intimar quando soube que já tinha hotel e não perdi tempo dizendo: "it's none of your business". O cara não gostou, mas sabendo que eu já tinha local para ficar, não viesse incomodar.

Havia conseguido o hotel por um excelente preço, US$4.50 por noite, porém não queria comprar o passeio de camelo deles, uma das condições que os hotéis oferecem para fazer o passeio de camelo. Na manhã, o dono do hotel veio oferecendo o passeio e disse que já havia comprado antes. O cara ficou muito bravo, mas disse que já havia pago, então não podia fazer nada. 

Fui conhecer a Fortaleza de Jaisalmer, que realmente impressiona pelas cores amareladas e também pelas ruas estreitas e ventiladas, propositalmente projetada para fazer sombra devido ao calor do deserto. 

 
Réplica da Fortaleza esculpida em uma pedra apenas
 Ruas projetadas para fazer sombra o dia todo

Ao almoçar, fui a um lugar chamado 9 de Julho, um restaurante em frente ao palácio so Marajá. O "serviço"era pior que dar patadas, depois que recusei a oferta de um suco de manga vindo de outra província, sem água ou gelo, 100% natural. A dona do restaurante anotou o meu pedido e arremeçou o menú numa cadeira. Ao olhar para ver o que se passou, uma americana me contou que havia passado o mesmo com ela ao dizer que não gostava de manga. O preço deste suco era 2 vezes mais caro que a minha refeição.

Fui acertar o passeio de camelo após o almoço e ao conversar com o dono da agencia, descobri que ele não sabia ler nem escrever. Ao assinar o contrato para o tour de camelo por 3 dias, eu tive que anotar os dados no contrato porque o dono da agencia Trotters nunca havia ido a escola. Expliquei a ele que se ele fosse a escola e aprendesse o básico, teria mais oportunidades com o negócio e também implementaria novas formas de divulgação do serviço. O preço do passeio, 750 rúpias por dia, ou seja algo em torno de US$18.
Ao final do dia fui conhecer o Palácio do Marajá, e logo na entrada também como no Palácio em Jodhpur, havia a marca da última vez em que a mulher do Marajá saiu do Palácio para atirar fogo no corpo após o falecimento do esposo pois é melhor se suicidar à viver à humilhação das pessoas que a rejeitarão.

Já no Palácio, pude entender o porque os guias não recomendam aos turistas se hospedarem dentro dos hotéis e comer nos restaurantes da Fortaleza. Como a Fortaleza é no meio do deserto, não possui condições de suportar muita água e atualmente  algumas partes estão desmoronando. Caso tenha mais interesse, este é o link para maiores detalhes: http://www.jaisalmer-in-jeopardy.org/

 Dentro do Palácio também havia um serviço de áudio-guia organizado pela mesma companhia que fez o áudio-tour da Fortaleza de Jodhpur, porém aqui não alcançou o mesmo impacto. Dentro da Fortaleza era possível avistar a fronteira com o Paquistão. Não há posto fronteriço entre os dois países naquela região, e o risco de morrer quem tentar cruzar é muito alto devido a minas na área desmilitarizada (espaço que separa os dois países).



 Para encerrar o dia, já eram 7:30 da noite, voltei ao hotel, jantei um arroz chamado byriani e logo fui dormir pois no dia seguinte teria que estar às 6 da manhã em frente a agencia para iniciar o tour de camelo.

PS: O que mais gostei nesta viagem foi tirar foto das pessoas. Eles também gostam que os turistas peçam para tirar fotos. Neste dia, havia várias famílias que vivem no deserto e que tiveram a oportunidade de ir a cidade para passear. Espero que voces gostem destas fotos tanto quanto eu.




6 de set. de 2010

Décimo Sexto dia - Jodhpur

NÃO DEIXE PARA AMANHÃ O QUE VOCÊ PODE FAZER HOJE
17 de agosto, terça-feira- quase todo dia eu fazia a média de gastos com comida, hospedagens e atrativos. Até o momento, excluindo as passagens de trem e avião, a média era de US$33.00 por dia, o que me deixava feliz pois não havia passado por nenhuma necessidade, exceto por algumas vezes não conseguir encontrar nenhum lugar descente para comer.

 Estava hospedado no hotel Pushp, simples, mas limpo e por 200 rúpias por noite. No dia em que cheguei no hotel, já avisei que queria um quarto não mais que 200 rúpias ou US$4.50 por noite e o rapaz que me levou disse para o dono que mostrasse o quarto de 200 rúpias, não o que acabei ficando, que ele acabou fazendo por aquele preço.

A vista no último andar lembrava muito as favelas no Rio de Janeiro, com crianças empinando pipa do topo de suas casas. No dia anterior já havia resolvido o bilhete de trem para Jaisalmer, mas estava em lista de espera. Como já haviam dito antes, até o número 15 da lista de espera, não há com que se preocupar porque eles dão um jeito. Eu era o número 5, então estava tranquilo.

 Na Índia, se você não se planejar e comprar bilhetes de trens com certa antecedencia, corre o risco de ficar no mesmo lugar por vários dias. Se for época de festival, prepare-se para ver o inferno, pois a multidão irá toda em trem. Felizmente hoje se pode comprar pela internet os bilhetes de trem, mas aos que viajaram antes desta facilidade, devem ter perdido muito tempo nas estações para conseguir comprar seus bilhetes.

Eram 7:30 da manhã e queria tomar um banho, mas nada de àgua. Descobri mais tarde que eles fecham o registro de àgua à noite e reabrem somente no outro dia. Não sei porque, mas acho que é por serem avarentos.

 Neste dia já estava equipado com meias. Parece ridículo, mas eu não conseguia comprar meias para os pés pelos lugares que havia passado. Finalmente em Jodhpur acabei encontrando. Estava viajando apenas com uma sandáliua Crocs, e com o excesso de suor, machucava os pés. Já tinha feridas por várias partes dos pés (talvez naquele momento já seriam patas), e a meia fez grande diferença. A dor havia passado e as passadas já eram mais rápidas.

 Outro problema destas sandálias é que elas não foram feitas para andar de bicicleta, ou para subir montanhas, então grande parte do solado havia ficado em Anuradhapura quando usei uma bicicleta por todo o dia e Sighiria quando subi os degraus de uma montanha.  Em Jodhpur, a sola da sandália já estava lisa.

Vista do Forte de Jodhpur desde o Hotel PushP

 Naquela manhã fui visitar o Forte em Jodhpur. Definitivamente o Forte mais bonito do Rajastão. Ao pagar pelo ingresso, optei pelo pacote que incluia o áudio-guia, que era recomendado pelo guia de viagens.  Junto com o áudio-guia de Waterloo na Bélgica, foram os dois melhores que escutei até hoje. Ele dá uma excelente panorama da história da família do Marajá proprietário do palácio e também do Palácio.
 Primeiro, já na entrada, explicam o porque ao entrar no Forte é necessário subir e não descer em direção ao portal, como mecanismo de segurança contra as invasões. Ao ter que subir por uma subida íngreme, elefantes perderiam o impulso para tentar derrubar o portão num eventual ataque.

 Também na entrada está a marca das mãos das esposas dos Marajás quando saíram do palácio pela última vez. Um fato lamentável da cultura indiana, ainda hoje as mulheres ao perder o marido, perdem o respeito na sociedade e preferem atirar fogo em seus corpos à viver numa sociedade que irá rejeitá-las.

Mais adiante é mostrado o trono em mármore aonde foi coroado o atual Marajá. Nascido em 1947, 4 anos depois teve que ser obrigado a assumir ao trono devido a morte precoce do seu pai em um acidente aéreo.

 No dia da coroação, após receber os presentes dos nobres ou primeira casta, vieram as pessoas mais simples ou segunda casta para presenteá-lo. Num ato espontâneo, o presente que ganhou da primeira pessoa, ele repassou a segunda, e o presente que ganhou da segunda pessoa, ele deu a terceira, e assim foi repassando os presentes a todos de classes mais humilde.


Trono em mármore em que ocorreu a coroação do atual Marajá de Jodhpur

Também há a sala de armas, carruagens, inúmeras vistas fabulosas da cidade de Jodhpur, local para ensinar a usar o turbante, astrólogo, vários pátios belíssimos e salas com piso em mármore branco e vidros de várias cores decorando a janela e transformando o ambiente num conto de fadas.


Carruagem que carregava o Marajá com quatro pessoas caminhando com as mesmas passadas para que a pessoa transportada não sentisse muito desconforto

Sala de Armas


Aposento do Marajá

Sala de Audiências

Vista de Jodhpur do Forte

Diz a lenda que os Deuses atiraram tinta azul do céu na cidade de Jodhpur

 Após a Constituição da década de 70, os Marajás tornaram-se pessoas comuns, sem poder político. Isso explica o por que de seus palácios serem abertos para visitação e suas moradias serem transformadas em hotéis de luxo. O Marajá de Jodhpur decidiu até hoje voltar aos trabalhos aos pobres, criando sua própria fundação, além de trabalhar em ONG's e manutenção e conservação de seu palácio.


 Pessoas vindas do interior do Rajastão para conhecer o palácio

Funcionário usando turbante

 Até a década de 90 seu palácio estava abandonado, sendo moradia de pássaros e morcegos. Hoje é declarado Patrimonio da Humanidade, após uma grande reforma no final da década de noventa.

 Após a visita com o áudio-guia, fui a um Palácio de Marmore há 1 quilometro do Forte, e que no áudio -guia chamavam de Mini Taj Mahal devido a quantidade de mármore branco utilizado na construção. Lindíssimo, porém 15 minutos são mais que suficientes para desfrutar o local.





À tarde veio uma chuva que durou 3 horas. Lá pude assistir várias pessoas de diferentes casas aproveitando a àgua que vinha do céu para banhar-se. É algo muito comum na Índia, quase como um ritual.




Durante a chuva, conversava com o rapaz que trabalhava no restaurante do hotel. Contei minhas histórias de Varanasi e Orcha, e o pobre inocente chorava de tanto rir. Ele em contrapartida me contou que não sabia nem ler nem escrever. Antes morava com a família no deserto e que fazia tours com camelos mas que queria tentar algo na cidade. Ele, além de inglês, arranhava um pouco de espanhol, francês e italiano. Seu sonho era casar com um européia e que o levasse para a Europa. Também contou que nunca teve uma namorada (ele já tinha 22 anos) e que uma vez passou em frente a um prostíbulo mas não teve coragem de entrar. Segundo ele as mulheres eram muito bonitas e se maquiavam, e pelo serviço cobravam US$2.50.

 Já era noite e me arranquei para estação de trem. Jodhpur foi uma cidade que passou uma excelente impressão e gostaria de voltar um dia.

 Na estação de trem, encontro um casal de espanhóis que conheci na estação de trem de Agra e eles estavam indo também a Jaisalmer.

 Próxima e última parada: Jaisalmer, uma cidade incrível, no meio do deserto.





2 de set. de 2010

Décimo Quinto dia - Jodhpur

16 de agosto de 2010 -  saímos de Pushkar às 9:30 da manhã e chegamos na estação de onibus de Ajmer às 10:00. Como num toque de mágica, tivemos que nos despedir pois o onibus de Javier e Ruth estava partindo e foi como um susto a despedida: todos com os olhos cheios de lágrimas da excelente convivencia destes 8 dias. Segui como um louco para achar o clichê número dois para pegar o onibus par Jodhpur com A/C. Já não queria mais viajar com os onibus normais, colocando o limite de pessoas que poderiam entrar e se espremer dentro dos corredores. Felizmente consegui um bilhete e o onibus atrasou 20 minutos para sair o que deu tempo para que eu comprasse o bilhete e subisse.

 Já acomodado na minha poltrona, aproveitei para atualizar o diário. Percebi que um senhor e seu filho queriam conversar comigo, mas naquela hora estava um pouco cansado e queria apenas um pouco de silencio para poder me concentrar e escrever meu diário (que hoje utilizo de referencia para os dados que escrevo agora).

 Na primeira parada, almoço. Como não havia tomado café da manhã, aproveito para pedir uma samosa (cum folhado recheado de batata) e um chai, o chá indiano.
 Na volta, o rapaz em frente começa a conversar e o senhor ao lado com seu filho também entram na conversa. Aos poucos vou descobrindo que o rapaz é hindu e o senhor ao meu lado muçulmano. Mas o rapaz se supera e seguimos conversando e o senhor se cansa e dorme.


 Primeiro ele me explica como são os casamentos na Índia. Há um encontro entre as famílias, que devem ser da mesma casta, caso contrário, não há casamento. As famílias se intrometem muito na vida do casal, portanto, como uma família de comerciantes compartilharia a mesma casa que uma familia de varredores? Somente nos filmes.

 E o rapaz segue me contanto como foi o casamento de sua irmã mais velha, que veio ele escoltar para ver os pais que estavam em Jodhpur. Primeiro, houve um acordo entre as famílias. Depois neste primeiro e único encontro, os jovens acharam que valeria a pena o casamento. Então foi escolhida a data e feito os preparativos em um curto espaço de tempo (menos de 2 meses).

 Para a festa, compareceram mais de 2000 pessoas que comeram e beberam por dois dias, tres refeições por dia. O preço da festa: US$25000.00 (vinte e cinco mil dólares no total). Não me pareceu caro pela quantidade de gente e para fazer tudo aquilo. Porém para que consiga um número assim de pessoas, é preciso uma grande rede de contactos e uma família gigante. Como o pai era comerciante, foi possível convidar a tanta gente.

 Aos poucos o rapaz perde a timidez e começa a perguntar:
-"Voce e'casado?"
-"Voce casou por amor ou casamento arranjado?"
- "Voce tem filhos?"
- Eu tenho uma namorada, mas ela mora longe (como em todas as histórias de namoro que escutei na Índia)
- Já houve toques acalorados com minha namorada, e voce teve relações sexuais antes do casamento com sua esposa?""

 Aí a coisa passou do limite e ele levou um sermão:

- "Se voce quer  ser respeitado e ter amigos estrangeiros, não faça este tipo de pergunta, pois não é porque somos mais livres, que damos o direito de entrar na nossa intimidade. Isso chama-se respeito."

 E ele abaixou o pescoço e ligou o celular em música em tom alto para se mostrar. Disse de imediato a ele:

- "Não tem fone de ouvido?"
 - "Tenho."
 - "Então por que não usa?"
 - "É que não gosto do fone de ouvido!"
 - "Então desligue porque há pessoas dormindo ao nosso lado, e há outros que não querem escutar isso. O direito de um termina quando começa o do outro. Nos países avançados não é permitido nem atender ao celular no onibus. Faça o favor de respeitar os outros e desligue agora."

 E assim fui atendido, pelo rapaz de 19 anos. Estávamos quase chegando a Jodhpur, e tratei de arrancar informações preciosas de quanto custava os tuk-tuks para o Relógio no Centro da Cidade.

 Quando cheguei, me lembrei que estava encima da hora que precisava fazer cambio ou ficaria sem dinheiro naquele dia. Eram 3:30 da tarde, e consegui achar um banco as 3:50 da tarde e me informou que não fazia cambio, mas me mandaria para uma agencia de cambio, porém, primeiro teria que pegar um tuk-tuk e levaria uns 10 minutos. Por sorte o local fechava às 6 da tarde e na volta, desci na Torre do Relógio e fui caminhando até o centro velho de Jodhpur, todo pintado em azul.

Senti que alí iria gostar, e no primeiro hotel que parei, me levaram a outro, que estava excelente, com quarto amplo, limpo e por 200 rúpias a noite. Alí fiquei e aproveitei para descansar e apreciar a vista da terraça que estava em frente as muralhas da fortaleza no topo da cidade.


 No dia seguinte viriam excelentes histórias de dentro da fortaleza que conto no Décimo Sexto dia deste blog. 

1 de set. de 2010

Décimo Quarto dia - Ajmer e Pushkar

15 de agosto, domingo - chegamos em Ajmer, cidade mais próxima de Pushkar (que era nosso destino para aquele dia) com duas horas de atraso, mas pareceu um excelente idéia por ser 6 da manhã. As quatro da manhã, horário pervisto para nossa chegada seria uma péssima idéia porque os hotéis estariam fechados e ficaríamos na mão dos motoristas de táxi para escolher o local para ficarmos.

 De cara, uma garota de Israel se aproximou enquanto eu buscava o vagão em que Ruth e Javier estavam perguntando para dividir o tuk-tuk. Assim que entrei no trem para buscar meus amigos, outras espanholas se juntaram a israelense e aí estávamos 6 pessoas, o que nos levou a compartilhar uma van até Pushkar. Resultado: 50 rupias para cada um (R$2,10) para ir em nosso próprio meio de transporte. Chegando na cidade não sabíamos que havia taxa de veículos para entrar e numa breve discussão  entre o motorista e os espanhóis, eu e a israelense pagamos as 25 rúpias cada para não criar maiores problemas e adiantar a viagem.

 Logo que chegamos, as duas espanholas que conhecemos na estação de trem, carregavam uma mala gigante e ficaram pelo primeiro hotel que apareceu na frente. A israelense seguiu mais um pouco e ficou em outro. Nós, Javier, Ruth e Eu, como já estávamos mais tempo juntos, seguiríamos juntos. Achamos um hotel recomendado por outros espanhóis e ficamos por 200 rúpias uma noite. Também limpo e aceitável.

 Na saída do hotel havia cartazes explicando que naquela cidade era proibído consumir carne, beber alcool, e utilizar drogas. Porém escutei de um indiano em Agra dizendo que os israelenses estavam todos indo para Pushkar porque lá a polícia fazia vistas grossas quanto ao consumo de drogas.

 Pelo que sei, os israelenses passam um longo tempo no exército, em um ambiente de extrema disciplina, portanto quando eles terminam o serviço militar obrigatório, saem pelo mundo a disfrutar e a aprontar. São os turistas mais odiados no Vietnam e Tailandia. Em Agra, vários hotéis recusam estes hóspedes, por bagunça e festas no meio da noite, além de brigas com outros hóspedes.

 Saímos do hotel para tomar café da manhã. O serviço não foi tão lento, mas os pães que nos deram estavam todos (não um ou dois) embolorados. Aquele verde que não fizeram nem questão de esconder na torrada. Pelo menos o curd (iogurte) estava delicioso, com cereais e frutas secas. Recusamos a pagar pelos pães e fomos prontamente atendidos.

 Visitamos rapidamente o Templo de Brama (um dos poucos existentes). Primeiro Ruth e Javier, porque teríamos que deixar os sapatos, cameras e mochilas com guardadores, então me voluntariei para cuidar das coisas para que eles possem primeiro e quando voltaram fui eu.

 Nada de especial no templo, a não ser que todas as estátuas eram de Brama, representado com 4 rostos em direção norte,sul, leste e oeste.

 Um problema que há em Pushkar são a quantidade de monges vigaristas e dentro do templo não seria diferente. É claro que passou isso com Ruth e Javier, que tentaram convidar para um ritual (PAGO é claro), mas saíram de mansinho do templo. Quando entrei, observei tudo e ao momento em que os monges tentaram se aproximar, saí do templo para reencontrar com eles. Ainda assim os "monges" tentaram chamar para conversar, mas ignoramos para não estragar nosso humor.

 Chegamos aos Ghats (escadarias na beira do lago) e já havia sinais por todos os lados para não tirar fotografias das pessoas se banhando. Após ler isso, sentimos a hostilidade das pessoas locais que não perder a oportunidade de querer chamar a atenção e ser arrogante para qualquer coisa. Ruth teve que guardar a camera porque um saiu gritando que ela estava tirando foto das pessoas que se banhavam. Outro tentou provocar Javier e finalmente um tentou comigo porque ao caminhar ao lado do lago é preciso estar descalço e naquela local, que era bem maior que a distancia anunciada, mas com o calor próximo dos 40 graus, achei coerente por minha sandália, mas devido aos gritos daquele infeliz removi até um ponto mais isolado aonde não havia ninguém e também parecia que era parte da escadaria, que aí pode andar com algo nos pés.

 Percebi que os indianos não são nada educados neste sentido, e mesmo pedindo desculpas, eles ainda ficam se achando perante os outros indianos ao redor. Não é a toa que as pessoas falam mal deles pelo mundo afora.

Ao ler uma de várias crônicas do livro Best of Lonely Planet Travel Writing, um norte-americano que foi parar na Cashemira em uma cidade isolada comentou com os indianos que assistiam a um filme pornô e perguntavam a ele:
 - Como um homem podia levar uma vida normal nos EUA fazendo sexo com duas mulheres?
 - Era normal?
 - Era rotina?

Ele questionou os indianos:

 - São os filmes de Bollywood o cotidiano da vida de um indiano normal?
 - Saíam os indianos do nada dançando e cantando?

A resposta foi:

 - Eu canto e danço todos os dias do nada.

Então o americano começou a dizer que tudo isso era normal, e que assim ocorria quando uma entregora de pizza bem "gostosona" batesse na porta, participaria de uma orgia com os donos da casa.

 Ao passear pelos arredores do lago, decidimos procurar um local para almoçar recomendado pelo guia Lonely Planet. A sugestão era um local chamado Rainbow Restaurant. Não poderia ser melhor, com vista para o lago, opção de comer na mesa ou em colchões, optamos pelos colchões e tiramos uma soneca antes da comida chegar.

 Quando a comida chegou, nan (semelhante ao pão sírio, com alho, ou queijo), havíamos pedido malay kofta, uma opção vegetariana de almondegas, com molho de tomate, além de macarrão e outros pratos ocidentais. Estávamos mais que alimentados, mas insistiu o dono do restaurante que provássemos um pedaço pequeno da sobremesa de bolo com um creme e côco. Não resistimos e pedimos sobremesa. Ao final pagamos cada um o equivalente à R$6,00 por um almoço inesquecível. Foi tão bom que retornamos à noite.

 Como já havíamos conhecido toda a cidade, e fazia um calor de matar, aproveitei para ir a piscina de um hotel próximo pela bagatela de R$5,00 para nadar à tarde enquanto meus amigos espanhóis foram fazer compras.

 À noite, nos reencontramos, reencontrei uns italianos que havia conhecido no aeroporto de Varanasi, e também  jantamos. Ao final retornamos para o hotel para descansar e preparar-nos para a despedida.

 Javier e Ruth iriam para o sul, numa cidade chamada Bundi, eu para o oeste, Jodhpur.

 Neste dia não tirei nenhuma foto porque estava sem cartão de memória. Um dia antes, tentei enviar as fotos do Taj Mahal por e-mail e o computador literalmente desligou e não conseguia acessar mais as fotos. Então aproveitei apenas para disfrutar Pushkar, sem me preocupar em registrar perante as cameras. Perdi belas fotos, mas tenho as imagens só para mim.

 Dia seguinte, Jodhpur, e um jovem curioso por perguntas sobre casamento e relacionamentos no Ocidente. Contarei mais detalhes no décimo quinto dia.